Esta é uma carta que um certo marmanjo gostaria de escrever (ou será que escreveu mesmo) e que eu li (ou sonhei que li) a todos os marmanjenses do Marmanjal .
“…Naqueles dias em que ele andava nas nuvens num airbus A320 a caminho das Américas escreveu:
.... Meus, queridos conterrâneos, o peso da consciência que neste momento carrego (nem sei como o avião levantou voo), levou-me a epistolar a todos vós meus súbditos. Sei muito bem que tenho usado e abusado da generosidade e do vosso voto, assim como do vosso dízimo, e em troca nada vos dei (pelo menos a uma imensa maioria) porquanto tem esta epistola como objectivo pedir as minhas desculpas assim como e também justificar os meus actos e alertar-vos para a caldeirada que vos preparo(am)! Eu no fundo, mas mesmo lá no fundo, nas entranhas do meu ser, mesmo lá no meu íntimo, na verdade é que... eu nunca quis ser o Confrade Mor da Confraria das Merendas do Marmanjal (CMM).
Como vocês todos sabeis desde de pequenino em que ajudava o senhor prior á missa já eu sonhava um dia ser padre e pertencer ao clero (hoje possivelmente até já seria bispo), mas por vários motivos acabei por não o ser, embora tenha feito os votos de celibato. Não o sendo (mas o aparente) pensei que a melhor maneira de vir a ter a visibilidade a projecção e o respeito que um padre tem numa comunidade como a do Marmanjal, era um dia vir a ser o Confrade Mor da Confraria!
Usando todas as técnicas da hipocrisia e da manhosice politica lá consegui chegar à cadeira do poder da Confraria das Merendas cá da terra. Ao conseguir este importante cargo, e para surpresa minha eram muitos os que me obsequiavam com mimos dignos de um bispo que a qualquer abade faria inveja! Foram muitas as cerimónias a que eu presidi, assim com muitos os casamentos e baptizados, festas de aniversário e outras para celebrar tudo, não sei o quê, e até nada! Mas eu lá estava sempre presente umas vezes a representar a CMM e outras a minha pessoa, mas sempre com o dever de missão, pronto e sempre com mesmo apetite para gula! Fossem quatro ou cinco lanches seguido de dois ou três jantares… eu lá estava! E desempenhava bem o meu papel de prior, comendo sempre como um abade!
Assim, e com a minha impudência e com as minhas palavras doutas, fui-me aproveitando da vossa ingenuidade e simplicidade, usei-vos para assim alimentar o meu ego, sentindo-me idolatrado.Esta minha presunção que durou anos provocou em mim cansaço, sentindo-me hoje sem forças para continuar (assim como farto de chouriças, petiscos e cabidelas).
No entanto esta minha maneira de ser egocêntrica fez com que os meus fieis companheiros de sempre se afastassem de mim, ficando á minha volta uns tantos que se identificam comigo e que têm os mesmos tiques totalitários , egocêntricos e prepotentes. E são estes mesmos que hoje me empurram para que eu volte a utilizar a minhas mesmas técnicas de persuasão e o meu possível prestigio, para assim voltar a ganhar o cargo de Confrade Mor e assim também eles terem o poder nos cargos como meus imediatos.
Mas confesso… sinto-me cansado, só e abandonado, e o que hoje quero é viajar… viajar pelos quatro cantos do mundo e no final fazer um recolhimento, perdir-Lhe perdão pelos pecados mortais por mim cometidos e quiçá até talvez um dia ainda realizar o meu sonho de menino!
Previnam-se e não vos deixais iludir pelo togado, nem pelo soldadinho de chumbo sem farda, assim como pela menina do papá que apenas anseia alimentar o orgulho do progenitor, assim como a sua própria futilidade com o protagonismo que pensa poder vir a ter se eu ganhar novamente esta eleição de Confrade Mor.
Rezo ao meu Deus e Senhor para que a vossa cruz não seja feita no símbolo que eu represento, e que a luz da sabedoria vos ilumine no próximo sufrágio, porque se me castigardes com a reeleição, quero dizer-vos desde já que não carregarei a cruz ao calvário, e a passarei de imediato aquele que está imediatamente atrás de mim!
Por isso felizes daqueles que com a sua sabedoria e perspicácia sabem que quando eu falo de “…um bando de aventureiros muitas vezes sem escrúpulos, que apenas pretendem alcançar as rédeas do poder local por promoção pessoal e social, por vaidade, por penacho e para satisfazerem algumas clientelas pessoais e políticas”… me refiro especificamente, a todos aqueles que me “empurram” e acompanham nesta aventura, e que espero e rezo para que todos vós, sábio povo, lhes deis o sabor amargo da derrota que eu já em tempos saboreei, e que a nossa Confraria e o nosso querido Marmajal tenha futuro!...”
Assim seja.