quinta-feira, 23 de outubro de 2008

CANTINFLAS DURANTE 1 MINUTO!



Era quase final do dia!
Estou sozinho, leio o jornal da paróquia sentado no banco de espera destinado aos meus clientes, quando de repente dou um salto de susto, pois alguém entrou e disse com vigor:
- Boa tarde!
Ainda eu, não refeito do susto estava, e logo aparvalhado e acagaçado fiquei pela figura imponente que se apresentava á minha frente! Era ele aquele que jamais pensei ver entrar no meu modesto estabelecimento, com o seu ar de emproado como de uma verdadeira ave real se tratasse! Vários pensamentos me vieram á cabeça de tal inesperada presença no meu local estamine! O que quereria ele!?
Tentei recompor-me e não dando parte de fraco nem de espanto embora fosse difícil de disfarçar o meu estado psicológico, coloquei a voz e respondi também com um certo vigor!
- Boa tarde senhor inginheiro!
Ficou imóvel enquanto os seus olhos percorriam o meu estabelecimento como que examinando-o , fixando por fim as lunetas na minha modesta pessoa, ficando eu a modos que incomodado com aquele olhar altivo e acusador!
Não me deixei intimidar e perguntei:
- Deseja alguma coisa da minha pessoa!
Arregalou os olhos e com um sorriso amarelo respondeu:
- Sim... queria que me aparasse o bigode... se possível!
- Claro que é possível... faça o favor de sentar senhor inginheiro!
Sugeri que se assenta-se, pois aquela pose peganhosa já começava a irritar-me.
Assim o fez, com o seu ar característico, olha de revés para a cadeira como que examinando o seu estado de limpeza e senta-se.
Entretanto já eu estava a imaginar qual o verdadeiro motivo da sua inesperada presença, pois já que o bigode até que estava bem aparado, o cabelo cortado, e a barba desfeita! O que quereria este marmanjo! Bem vem cá só para me tramar!
Mas ao Mirra ninguém trama, e se esta ave traz agua no bico, vai sair daqui depenada! E logo decidi como iria gozar com a ave, espera só!
Inclinei o encosto da cabeça ao máximo para trás para que o meu cliente ficasse confortável e não se conseguisse ver ao espelho.
Pus-lhe a toalha na peitaça e entalada à volta do pescoço. E sugeri-lhe:
- Já agora faço-lhe a barba!
- Está feita… deixe estar não é preciso!
- Fica mais bem servido e deixe lá que não paga mais por isso!
- Pronto… está bem faça lá!
Peguei na minha velha navalha que começo a afiar vigorosamente, ele apercebendo-se levanta a cabeça do encosto com ar de acagaçado e ao mesmo tempo de arrependido de me ter dado autorização para o corte! Lá deveria ter pensado «queres ver que me vai cortar o pescoço»!
Eu para o acalmar disse:
- Esteja á vontade que está desinfectada!
- Não… não é isso! Não sabia que ainda se fazia a barba com navalha!
- Pois… já há poucos!

Besunto-lhe a cara com espuma de sabão e começo a minha empreitada.
Entretanto o meu cliente/paciente fecha os olhos desnudados das lunetas que colocara em cima do meu balcão de apoio, com cara de satisfação como que estando a gozar o momento e talvez pensando para si «nem sabes o que te espera» pensamento este que eu ao mesmo tempo também partilho, e que já sabia o que o esperava mas a ele!
Passaram-se para aí uns 15 minutos, desde do inicio até final do meu serviço.
Tirei a toalha que lhe tinha colocado e limpei-lhe as fuças, mantendo-me sempre á frente dele para que não se visse ao espelho.
- Pronto já está!
Levanta-se, sorri e pega nas lunetas, olha para o espelho e exaltado grita…
- MAS… MAS… não acredito!... O MEU BIGODE!
- Tá aparadinho!
Não era isso que queria… o bigode aparadinho! Respondi eu sorrindo.
- Mas pareço o Cantinflas!
Realmente parecia, era mesmo um bigode à Cantinflas que eu já não fazia a ninguém à muito tempo!
- Mas senhor inginheiro… fica-lhe bem!
Cobre-me com um olhar ameaçador que por acaso não me acagaçou, senta-se novamente na cadeira e ordena-me:
- Agora corte o resto!
- O resto… quer ficar sem bigode senhor inginheiro!
- Corte o resto e CALE-SE!
E assim acabei por lhe rapar os pelos que restaram, ficando o seu bigode na minha Barbearia colado ás folhas de papel onde limpava a navalha de cada vez que lha passava entra as bêças e o nariz!
- Já está!
Levanta-se apressadamente, retirando ele próprio a toalha e atirando com ela para cima da cadeira com violência.
- Quanto lhe devo!
- Nada, é oferta da casa!
- Pudera… depois do que me fez!
- Não… não paga nada porque o seu bigode tem mais valor que o meu serviço, mas fiz-lho com todo o prazer!

Olhou para mim de alto abaixo como que me tirando as medidas como quem diz está feito! E lá saiu porta fora cruzando-se na porta com Nelo Comuna que me pergunta!
- Quem era aquele!
- Era o Pavão, mas que já foi Cantinflas, e agora é novamente Pavão mas sem algumas penas!
- Realmente... já estás com os vapores... é final do dia… quantas vezes já foste ali ao lado ao Quebra Bilhas!
Não respondi limitando a sorrir e a olhar pelos vidros da porta a observar o Pavão sem bigode, e a reacção de espanto das pessoas que com ele se cruzavam!
Hoje e apesar deste meu contentamento da partida que fiz ao emproado, confesso que estou á espera da pancada! Será que me vai cá mandar a asai!

sábado, 18 de outubro de 2008

O MEU RECRIMENTO!


Reconheso que o meu modesto estabelesimento, nessessita de grandes obras para que fique mais moderno e com outras condisões de acunxego para a cliente-la. Apesar do aspeto limpo e assiado, recunheso que se por aqui passam os da asaie, me vão obrigar a fazer as respe-tivas obras.
No entanto, além de este meu espazo ser arrendádo do qual pago uma renda mensal todos os meses, a clientela cada vez é menos, e á dias que nem pró pitrol da motoreta consigo tirar, cuanto mais para fazer obras.
Aqui a atrasado vi que na cede da JF cá do Pulo, andavam com umas grandes obras. Obras que eu pensei cerem de manuten-são do nosso velho idificio publico. Mas, não, não eram obras de manuten-são…. Eram obras para a instala-são de um posto para tratar das cramalheiras dos velhotes cá do Pulo… a quem ainda a tem, pois a maior parte já nem um dente jerado!
Atentei saber mais sobre o assunto em causa foi-mi imformado, que seria mesmo uma coisa com tudo que uma coisa destas deve de ter!
- Mas…mas… é da freguesia!...
- Nã, é privado!
- Mesmo estando dentro da cede pública de nós todos... os formigos!
- Sim... é privada e tens que pagar o mesmo que pagas no Marmanjal ou em Olivenza!
Pois parece que como o dótor ou dótora que vai tratar das dentadeiras, está em prinsipio de vida e é de orijem umilde e de poucas poces, axou o manda xuva da JFPF muito bem (opinião dele), seder um espaço nas amplas instalasões para mais uma coisa (valensia, como diz ele) na freguesia pois agora além do posto do senhor dótor médico das doensas do serviso nacional de saude, teremos também quem nos arranje as dentadeiras… do serviso privado!
Ora, andei a matutar durante uns dias no assunto enquanto via as obras a avansar! Xiguei á conclução,…” bem se já temos um doutor médico de medisina para nos tratar da saude e outro das dentaduras para mordermos melhor nas febras dos marranos de ispeto que nos vão oferesendo de quando em vez, porque não também ter uma barbearia para nos tratarem da piolheira”. E já agora além dos três em um, porque não quatro em um!... sim já que a mesma moça assistente que assessora o dótor médico das doenças e tamém o das dentaduras porque não me assessorar tamém a mim, fazendo as neiles (unhas) aos meus clientes que o desejem! Principalmente a alimpar o estrume das ditas e alguma encravada que aparecesse! Isto sim seria um serviso publico ainda mais completo, e eu nem me importaria de abrir aos sábados.
Achei eu, que tamém tinha o mesmo direito e assim resolvi fazer o seguinte recrimento em papel selado, ao nosso manda xuva da JFPF, que até á data ainda não obteve resposta!

RECRIMENTO

José Manuel Mirra eleitor resenseado na freguesia do Pula da Formiga sob o numero trezentos e cinco, contribuinte culetado no serviso de finansas local e que nada deve ao fisco, seguransa sucial ou a qualquer outro organismo do estado, e em goso pleno do seus direitos de sidadão, e tendo conhesimento que voça exesselência entendeu por bem e a bem da freguesia abrir um consultorio de dótor de dentaduras privado, dentro da nossa sede da JFPF, pelo que de certo a autarquia areseberá uma simbólica renda mensal, venho por este meio recrerer que me seja facultado o mesmo direito de poder a vir a abrir uma filial da minha barbearia, que me comprometerei abrir num orário que vossa exesselência achar mais cunveniente pra os seus freguezes da sua e nossa freguezia. No entanto espero que as condisões de arrendamento e obras de adapata-são sejam feitas dentro das mesmas condisões das do futuro consultorio, pois sou contra as discreminazões!
Pede deseferimento,
Pula da Formiga aos dois dias e meio do mês corrente deste mesmo ano.

Assinado,

PS não está assassinado porque estou aleixado na mão direita com que acino, por isso quem me fez o favor de escrever isto por mim no meuo computadori, fui eu o Toino Ispanhol que anda a estudar á note para tirar o nono ano se Deus qizer (os erros são dele, e são tantus que deixei ficar). Pois, o recrimento que eu enviei para o manda xuva ia sem eles!

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

O CURRICULO VITAI



Devo confessar que este meu modesto negocio de cortar barbas e cabelo por aqui no Marmanjal, vai de mal a pior! Não sei se estão recordados aqui a atrasado em ter escrito aqui neste no meu blogue, que a filha do Xilrrinho emigrada nas Suiças, estava em vias de regressar e abrir um estabelecimento de cabeleireiro para os dois sexos. Pois a moçoila, acabou mesmo por vir e consumou o acto! Pois abriu… abriu e já estou a senti-lo. Pelo menos a clientela baixou drasticamente. Ao fim do dia depois de pagar, os tintos na taberna do Quebra Bilhas, e comprar o macito do SG Gigante, pouco me sobra para “depositar” na carteira da minha.
A quem mais preocupa esta súbita quebra no negócio até nem é a mim, assim sobra-me mais tempo para fazer outras coisas, como por exemplo escrever, beber uns tintos e comer umas alcagoitas com os meus compadres. Mas a minha Maria é que já nem dorme e passa as noites a rezar a todos os santinhos, para que o meu negócio arribe.
Todo este meu desabafo, para contar a surpresa que a minha ontem me fez, quando regressei a casa depois de mais um dia de pouco trabalho.
Atão não é que estava à minha espera à porta de casa! Toda sorridente e feliz e solta, que até parecia mais nova uma meia dúzia de anos!
Arrumo a minha Famel Zundap74 no barracão, pois quando o tempo está bom e de sol, desloco-me na motocicleta, o Axiam400, é mais para levar a minha aos domingos à missa, ou quando está de chuva!
Depois de ter feito festas ao meu canito que está preso, entro em casa pela porta das traseiras, e para meu espanto encontro já a minha sentada na mesa da cozinha, com este meu computador portátil, (que comprei na loja do Inginheiro Pavão) à frente dela! Mas estava desligado! Sim, que pegar nele o pô-lo em cima da mesa já foi um grande feito, pois para ela não passa de uma máquina do demónio e das poucas vergonhas!
Mas o que se passou para lhe ter pegado!
Não me deu tempo para pensar e disse com toda a convicção apontando para o meu computador!
- Manel quero que me tires daqui o curriculo vitai!
- ahhh… mas!
- Disseram-me que isso se tira aqui no computador!... Anda lá não fiques aí especado, e fecha a boca que ainda entra mosca!
- Disseram-te,… mas para que é que tu queres o curriculo!?
- Para apresentar num sitio!
- Mas que sitio!...
( disse eu desconfiado)
- Vou trabalhar para a mercearia que vai abrir no Marmanjal!
- Mas… Maria… tu nunca trabalhas-te!
- Algum dia tinha que ser… não és tu que dizes que o teu negócio vai de mal a pior!.. Qualquer dia nem para o pão ganhas… por isso decidi… vou trabalhar!
- Mas Maria, já viste a tua idade, vais a caminho dos sessenta! Quem é que te vai dar emprego!
- O Juan,… o noviço, disse que me mete lá na marcearia do Belmiro! Já me lá fui inscrever!
- Belmiro… mas que Belmiro… e já te foste inscrever?!
- O Belmiro Merceeiro! ... parece que ainda é parente do noviço! Disseram-me que é preciso o currículo vitai! Perguntei o que era isso e onde se tirava, e disseram-me para o tirar num computador! Portanto como não sei lidar com esta máquina dos infernos… tiras-mo tu!
- Não estarás confiante de mais!
- Mas oh Manel… tenho uma boa cunha! Temos é que depois deitar nele!

terça-feira, 7 de outubro de 2008

POR AMOR AO DESPORTIVO!


Sexta feira 18 horas e três quartos, barbearia arrumada, varrida e eu preparadinho para ir ao encontro dos meus compadres Serafim da Rosalina e do Zé Forcalhos, que aguardavam por mim na taberna do Quebra Bilhas para bebermos uns copos acompanhados por umas alcagoitas.
Mas, eis que quando me dirigia para a porta com o intuito de por ela sair e só voltar a abri-la depois de passado mais um fim-de-semana, sim porque o sábado para mim é dia do Senhor, e deve-se guardar, este dia, (neste aspecto consigo ser mais rigoroso que a minha Maria), reparo que na direcção da minha “loja” vinha o tesoureiro do Clube Desportivo do Marmanjal, com cara de poucos amigos a gesticular ao mesmo tempo que falava ao telemóvel!
Seguindo a indicação do auto colante (Empurre S.F.), empurra a porta, estaca segurando-a com a mão direita enquanto com a esquerda segura o telemóvel, e diz:
- Boa tarde!
- Boa tarde! (devolvi eu)
- Já fechas-te! ?
- Ora essa se tivesse fechado não estava cá dentro!

- Então ainda dá para me dares uma aparadela ao cabelo!
- Com certeza… sente-se na cadeira que é já a seguir!

Entretanto acabou a conversa com o seu interlocutor, com um “atão vá depois ligo-te”!
Para ser sincero, este cliente de ultima hora não veio na melhor hora, pelo menos eu ira chegar atrasado ao encontro com os meus compadres e ficando assim em desvantagem na quantidade de néctar engolido!
Por outro, anda aí um assunto a ser comentado sobre uma acta que nem acta nem desata que envolve o guito nosso querido clube, ora tinha assim uma boa oportunidade de tirar a coisa a limpo e na fonte!
Sentou-se na cadeira que lhe indiquei, enfiei-lhe a respectiva protecção pela cabeça e perguntei!
- Então é só aparar… como do costume!
- Sim!

Começo a empreitada de tesoura e pente na mão, e zás aparadela da direita aparadela da esquerda no cocuruto, e o meu paciente continuava mudo e calado com cara de chateado, até que ás tantas entrei com ele!
- Então, compadre parece que anda um pouco apoquentado!
- Bastante Manel… nem imaginas quanto!
- Por causa do nosso clube Desportivo!?
- Sim, por isso mesmo!
( confirmou ele)
- Por causa dos nós… numas actas, que não há maneira de os conseguirem desatar!
-Nós… sim nós que eles ataram e agora lixam-nos a nós que não temos culpa nenhuma das trapalhadas deles… mas não passam de desculpas de mau pagador … armaram estas confusões para nos sufocarem financeiramente! Agora desculpam-se com actas mal feitas e por assinar e coisa e tal!
- Mas ouça lá se é por causa dos nós que deram nas actas para abrirem os cordões á bolsa, deixe lá que tenho remédio para isso!
- Ai tens!!!
- Sim tenho,… digo-lhe já que de nós na percebo muito, nunca fui marinheiro, nem escuteiro, mas vou pedir á minha que reze à Nossa Senhora Desatadora dos Nós, para que consigam abrir a bolsa!
Até lhe digo mais nem que eu tenha que dar uma esmola a esta Nossa Senhora,… e olhe que eu até nem sou crente! … e até mais vou pedir à minha que faça uma novena!
- Obrigado Manel, eu sei que tu és um verdadeiro Marmanjo... e dos verguios!
Fiquei todo orgulhoso de poder ajudar o meu clube da terra e já nem passei pelo Quebra Bilhas, assim que acabei o corte, montei na minha Zundapp Famel74 e acelarei direitinho ao Pulo, para ainda nesse dia a minha começar as rezas à Senhora Desatadora dos Nós!
Ao fim da novena decerto haverá milagre! (disse a minha).

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

MARRANOS ASSADOS.


Aqui atrasado arrecebi um convite!
Não, na era um convite de casamento.
Era nada mais nada menos que um convite de inauguração!
Sim, inauguração de um templo construído no século passado, no Monte do Corvacho!
Bem, na verdade na vinha endereçado á minha pessoa, visto que eu por acaso, mas só para o caso, até sou ateu, mas sim á minha senhora. Ela, sim que é devota e tem raizes neste monte.
E, como o Sr. Prior assim como Sr. Bispo, iam estar presentes, nem que chovesse picaretas, a minha senhora, jamais faltaria a este importante evento, onde tão ilustres figuras, assim como outro figurões, iriam desfilar.
Assim no fim de semana, lá tive que lhe fazer o frete e pegar no volante do meu Axiam 400, pois caso não lhe satisfizesse esse seu desejo punha-me de castigo e a sopas de cavalo cansado durante um mês!
Por acaso não chovia picaretas nem tão pouco umas pingas de água, aliás até estava um dia de sol radiante, tipo verão de S. Martinho, embora este fosse o dia do Gabriel, do Rafael e do Miguel!
Depois de duas horas menos três quartos de viagem, lá chegámos a horas, e a minha, lá foi para as cerimónias de inauguração antecedida da respectiva missa, eu fiquei-me por longe, não fosse cometer o pecado mortal de entrar na casa do Senhor, visto eu estar atolado dos mais vis pecados mortais (isto aos olhos de alguns)!
Pois, fiquei-me por outra capelinha…a da tia Quinhas, que já não via à alguns meses, talvez desde as festas anuais do ano anterior!
Tava feliz a taberneira! … feliz por nesse dia haver tanta gente importante lá no seu monte!
Desde, o bispo (que até nem é pessoa de sair do seu palácio por toma lá aquela palha) até aos políticos mais importantes da província e do Marmanjal e até arredores, os futuros e actuais e até os renegados locais, não faltando como não podia de ser os respectivos confrades das confrarias.

Lá fizeram as inaugurações que tinham a fazer com os respectivos discursos de ocasião, que eu não ouvi! Não ouvi, porque ainda continuava a rezar em amena confraternização com os meus amigos na capelinha da tia Quinhas, saboreando o sangue do Senhor que ela nos ia servindo em belos copos raiados de vidro da Marinha Grande, com a magnifica e rara capacidade de meio quartilho, num saudável despique “agora pagas tu a seguir pago eu”!

O tema das nossas rezas, eram e como não podia deixar de ser sobre o evento que se desenrolava a algumas dezenas de metros dali. Ás tantas alguém diz que o dinheiro que ali foi gasto ( mais de vinte mil contos de reis) foi dado pelo noviço Juan de La Cosa!
- Foi ele que os deu! ( disse eu incrédulo)
- Na, na foi ele... foi o Socras! (responde o Xico Cortiça)
- Quem!!!! O Socras o caraças... fomos nós todos! (disse eu indignado)
- Atão tamém te foram a pedir... e tu desti! (pergunta todo admirado o Manel Carriça)
- Achas... isto é dinheiro de nós todos, porque o dinheiro que eles deram era nosso, dos nossos impostos... eu pago impostos... eu e vocês somos o estado... o estado é o povo...e vivemos num país democrático e laico!.. e esse e outros já andam é a fazer politica com o nosso dinheiro... andam a tratar da vidinha deles, a ver se arranjam uns votitos dos parvos e ingénuos deste monte e dos outros por aí,... sim, para ver se ganham as próximas, que é para eles e os amigos se amanharem, bem amanhados... são todos iguais!... é tudo uma cambada... e vivem assim á conta de otários como vocês... e...eu!
De repente, ficaram todos com cara de aparvalhados... e calados com cara de quem comeu e não gostou, lá pensando para eles “lá vem este outra vez com aquelas ideias comunas e anarquista de que a terra é da quem a trabalha!...e coisa e tal..."
Arrependi-me de ter dito estas palavras, devia ter-me alembrado que pisava terrenos politicamente inimigos, e que não devia ter posto em causa a origem da massa, viesse ela de onde viesse!... mas o culpado era do liquido que já tinha no bandulho, e que fazia com que a a minha lingua se soltasse!
- Mas o sr. Presidente da junta e da cambra tamém deram!
- Toda a gente por aí deu…

Afirmaram o Xico Cortiça e o Manel Carriça!
Fiquei-me calado, pensando para os meus botões, será que a até as Testemunhas também deram… e a minha Maria também deu!?
Pois, eu pessoalmente... não dei, nem me pediram nada, mas... e ela, como para estas causas da fé está sempre pronta, acho que até faz tudo em dobro, inclusive as rezas, penso eu que o faz na minha vez pagando ela por mim, até mesmo penitencias, na expectativa de que os meus pecados sejam perdoados! Será que também me foi aos bolsos das calças enquanto eu dormia e deu em meu nome... e se calhar em dobro!

Estava eu com este pensamento na moleirinha, quando ouço um estridente...
- Oh Manel...
Era, ela á porta da tasca a chamar por mim.
- Já aí vou!
Já tinha passado para aí mais de duas horas e vinte minutos, desde que entrei na tasca, e não me tinha apercebido que o tempo voara.
Bebi o que restava no copo de golada…despedi-me dos meus companheiros de ocasião e saí, parei junto da minha Maria, ali, no meio do pequeno largo onde confluem três ruas… uma da direita outra da esquerda e outra do centro!
- Não tens vergonha, uma cerimónia tão linda e vieste-te meter na tasca!... a encharcares-te de vinhaça!
Não respondi.
- Olha o sr. Torroguito perguntou por ti!
- Hã... o quê!!!!
- Sim, disse que há uns marranos assados inteiros para comer… e convidou-me a mim e a ti!
- Não sabes que não posso comer carne, por causa do ácido úrico.... e logo de marrano!
- E o vinho não te faz mal, ao ácido!?

Entretanto olho sobre o meu ombro do lado direito e vejo num grupelho que vem na minha direcçaõ toda sorridente encabeçada pelo Torroguito e pelo confrade mor da Confraria das Merendas do Marmanjal (CMM) ladeados por outros confrades, desta e de outras confrarias...
- Eh pá tantos...
Diz o Manel com admiração que entretanto tinha saído da tasca e que já se encontrava atrás de mim.
Sim eram muitos, porque da rua da esquerda que também confluía ao largo onde eu me encontrava mesmo no centro, impávido e sereno, vinham outros tantos... ou mais!
Também este grupelho, vinha encabeçado pelo noviço Juan de La Cosa, ladeado pelo filho do Galochas, com cara de quem anda a fazer frete, assim como outras figuras de menor ou tanta importância, onde se incluíam alguns que têm a mania que andam com gente importante! O filho do Torroguito, vinha mais atrás com ar de comprometido ou e de quem não se quer comprometer, e que só está ali porque... nem ele sabe bem!
Bem devo dizer que me senti pequenino naquele pequeno largo como estivesse no centro de uma arena, e que em breve iria ser invadida por chocas, novilhos, novilheiros, touros e toureiros, e eu que nem bandarilheiro sou ou fui, aliás nem gosto de toradas, senti que se continuasse por ali iria ser cilindrado... só me ocorreu pegar no braço da minha, e puxá-la para dentro da tasca da tia Quinhas, e refugiar-me assim do epicentro de uma previsível garraiada!
Pelo menos aqui estava resguardado entre tábuas!
- Tia Quinhas deite aí mais meio quartilho… e tu Maria queres um pirolito!

- Não... na quero... quero é ir provar o marrano assado!