Era quase final do dia!
Estou sozinho, leio o jornal da paróquia sentado no banco de espera destinado aos meus clientes, quando de repente dou um salto de susto, pois alguém entrou e disse com vigor:
- Boa tarde!
Ainda eu, não refeito do susto estava, e logo aparvalhado e acagaçado fiquei pela figura imponente que se apresentava á minha frente! Era ele aquele que jamais pensei ver entrar no meu modesto estabelecimento, com o seu ar de emproado como de uma verdadeira ave real se tratasse! Vários pensamentos me vieram á cabeça de tal inesperada presença no meu local estamine! O que quereria ele!?
Tentei recompor-me e não dando parte de fraco nem de espanto embora fosse difícil de disfarçar o meu estado psicológico, coloquei a voz e respondi também com um certo vigor!
- Boa tarde senhor inginheiro!
Ficou imóvel enquanto os seus olhos percorriam o meu estabelecimento como que examinando-o , fixando por fim as lunetas na minha modesta pessoa, ficando eu a modos que incomodado com aquele olhar altivo e acusador!
Não me deixei intimidar e perguntei:
- Deseja alguma coisa da minha pessoa!
Arregalou os olhos e com um sorriso amarelo respondeu:
- Sim... queria que me aparasse o bigode... se possível!
- Claro que é possível... faça o favor de sentar senhor inginheiro!
Sugeri que se assenta-se, pois aquela pose peganhosa já começava a irritar-me.
Assim o fez, com o seu ar característico, olha de revés para a cadeira como que examinando o seu estado de limpeza e senta-se.
Entretanto já eu estava a imaginar qual o verdadeiro motivo da sua inesperada presença, pois já que o bigode até que estava bem aparado, o cabelo cortado, e a barba desfeita! O que quereria este marmanjo! Bem vem cá só para me tramar!
Mas ao Mirra ninguém trama, e se esta ave traz agua no bico, vai sair daqui depenada! E logo decidi como iria gozar com a ave, espera só!
Inclinei o encosto da cabeça ao máximo para trás para que o meu cliente ficasse confortável e não se conseguisse ver ao espelho.
Pus-lhe a toalha na peitaça e entalada à volta do pescoço. E sugeri-lhe:
- Já agora faço-lhe a barba!
- Está feita… deixe estar não é preciso!
- Fica mais bem servido e deixe lá que não paga mais por isso!
- Pronto… está bem faça lá!
Peguei na minha velha navalha que começo a afiar vigorosamente, ele apercebendo-se levanta a cabeça do encosto com ar de acagaçado e ao mesmo tempo de arrependido de me ter dado autorização para o corte! Lá deveria ter pensado «queres ver que me vai cortar o pescoço»!
Eu para o acalmar disse:
- Esteja á vontade que está desinfectada!
- Não… não é isso! Não sabia que ainda se fazia a barba com navalha!
- Pois… já há poucos!
Besunto-lhe a cara com espuma de sabão e começo a minha empreitada.
Entretanto o meu cliente/paciente fecha os olhos desnudados das lunetas que colocara em cima do meu balcão de apoio, com cara de satisfação como que estando a gozar o momento e talvez pensando para si «nem sabes o que te espera» pensamento este que eu ao mesmo tempo também partilho, e que já sabia o que o esperava mas a ele!
Passaram-se para aí uns 15 minutos, desde do inicio até final do meu serviço.
Tirei a toalha que lhe tinha colocado e limpei-lhe as fuças, mantendo-me sempre á frente dele para que não se visse ao espelho.
- Pronto já está!
Levanta-se, sorri e pega nas lunetas, olha para o espelho e exaltado grita…
- MAS… MAS… não acredito!... O MEU BIGODE!
- Tá aparadinho! Não era isso que queria… o bigode aparadinho! Respondi eu sorrindo.
- Mas pareço o Cantinflas!
Realmente parecia, era mesmo um bigode à Cantinflas que eu já não fazia a ninguém à muito tempo!
- Mas senhor inginheiro… fica-lhe bem!
Cobre-me com um olhar ameaçador que por acaso não me acagaçou, senta-se novamente na cadeira e ordena-me:
- Agora corte o resto!
- O resto… quer ficar sem bigode senhor inginheiro!
- Corte o resto e CALE-SE!
E assim acabei por lhe rapar os pelos que restaram, ficando o seu bigode na minha Barbearia colado ás folhas de papel onde limpava a navalha de cada vez que lha passava entra as bêças e o nariz!
- Já está!
Levanta-se apressadamente, retirando ele próprio a toalha e atirando com ela para cima da cadeira com violência.
- Quanto lhe devo!
- Nada, é oferta da casa!
- Pudera… depois do que me fez!
- Não… não paga nada porque o seu bigode tem mais valor que o meu serviço, mas fiz-lho com todo o prazer!
Olhou para mim de alto abaixo como que me tirando as medidas como quem diz está feito! E lá saiu porta fora cruzando-se na porta com Nelo Comuna que me pergunta!
- Quem era aquele!
- Era o Pavão, mas que já foi Cantinflas, e agora é novamente Pavão mas sem algumas penas!
- Realmente... já estás com os vapores... é final do dia… quantas vezes já foste ali ao lado ao Quebra Bilhas!
Não respondi limitando a sorrir e a olhar pelos vidros da porta a observar o Pavão sem bigode, e a reacção de espanto das pessoas que com ele se cruzavam!
Hoje e apesar deste meu contentamento da partida que fiz ao emproado, confesso que estou á espera da pancada! Será que me vai cá mandar a asai!
Estou sozinho, leio o jornal da paróquia sentado no banco de espera destinado aos meus clientes, quando de repente dou um salto de susto, pois alguém entrou e disse com vigor:
- Boa tarde!
Ainda eu, não refeito do susto estava, e logo aparvalhado e acagaçado fiquei pela figura imponente que se apresentava á minha frente! Era ele aquele que jamais pensei ver entrar no meu modesto estabelecimento, com o seu ar de emproado como de uma verdadeira ave real se tratasse! Vários pensamentos me vieram á cabeça de tal inesperada presença no meu local estamine! O que quereria ele!?
Tentei recompor-me e não dando parte de fraco nem de espanto embora fosse difícil de disfarçar o meu estado psicológico, coloquei a voz e respondi também com um certo vigor!
- Boa tarde senhor inginheiro!
Ficou imóvel enquanto os seus olhos percorriam o meu estabelecimento como que examinando-o , fixando por fim as lunetas na minha modesta pessoa, ficando eu a modos que incomodado com aquele olhar altivo e acusador!
Não me deixei intimidar e perguntei:
- Deseja alguma coisa da minha pessoa!
Arregalou os olhos e com um sorriso amarelo respondeu:
- Sim... queria que me aparasse o bigode... se possível!
- Claro que é possível... faça o favor de sentar senhor inginheiro!
Sugeri que se assenta-se, pois aquela pose peganhosa já começava a irritar-me.
Assim o fez, com o seu ar característico, olha de revés para a cadeira como que examinando o seu estado de limpeza e senta-se.
Entretanto já eu estava a imaginar qual o verdadeiro motivo da sua inesperada presença, pois já que o bigode até que estava bem aparado, o cabelo cortado, e a barba desfeita! O que quereria este marmanjo! Bem vem cá só para me tramar!
Mas ao Mirra ninguém trama, e se esta ave traz agua no bico, vai sair daqui depenada! E logo decidi como iria gozar com a ave, espera só!
Inclinei o encosto da cabeça ao máximo para trás para que o meu cliente ficasse confortável e não se conseguisse ver ao espelho.
Pus-lhe a toalha na peitaça e entalada à volta do pescoço. E sugeri-lhe:
- Já agora faço-lhe a barba!
- Está feita… deixe estar não é preciso!
- Fica mais bem servido e deixe lá que não paga mais por isso!
- Pronto… está bem faça lá!
Peguei na minha velha navalha que começo a afiar vigorosamente, ele apercebendo-se levanta a cabeça do encosto com ar de acagaçado e ao mesmo tempo de arrependido de me ter dado autorização para o corte! Lá deveria ter pensado «queres ver que me vai cortar o pescoço»!
Eu para o acalmar disse:
- Esteja á vontade que está desinfectada!
- Não… não é isso! Não sabia que ainda se fazia a barba com navalha!
- Pois… já há poucos!
Besunto-lhe a cara com espuma de sabão e começo a minha empreitada.
Entretanto o meu cliente/paciente fecha os olhos desnudados das lunetas que colocara em cima do meu balcão de apoio, com cara de satisfação como que estando a gozar o momento e talvez pensando para si «nem sabes o que te espera» pensamento este que eu ao mesmo tempo também partilho, e que já sabia o que o esperava mas a ele!
Passaram-se para aí uns 15 minutos, desde do inicio até final do meu serviço.
Tirei a toalha que lhe tinha colocado e limpei-lhe as fuças, mantendo-me sempre á frente dele para que não se visse ao espelho.
- Pronto já está!
Levanta-se, sorri e pega nas lunetas, olha para o espelho e exaltado grita…
- MAS… MAS… não acredito!... O MEU BIGODE!
- Tá aparadinho! Não era isso que queria… o bigode aparadinho! Respondi eu sorrindo.
- Mas pareço o Cantinflas!
Realmente parecia, era mesmo um bigode à Cantinflas que eu já não fazia a ninguém à muito tempo!
- Mas senhor inginheiro… fica-lhe bem!
Cobre-me com um olhar ameaçador que por acaso não me acagaçou, senta-se novamente na cadeira e ordena-me:
- Agora corte o resto!
- O resto… quer ficar sem bigode senhor inginheiro!
- Corte o resto e CALE-SE!
E assim acabei por lhe rapar os pelos que restaram, ficando o seu bigode na minha Barbearia colado ás folhas de papel onde limpava a navalha de cada vez que lha passava entra as bêças e o nariz!
- Já está!
Levanta-se apressadamente, retirando ele próprio a toalha e atirando com ela para cima da cadeira com violência.
- Quanto lhe devo!
- Nada, é oferta da casa!
- Pudera… depois do que me fez!
- Não… não paga nada porque o seu bigode tem mais valor que o meu serviço, mas fiz-lho com todo o prazer!
Olhou para mim de alto abaixo como que me tirando as medidas como quem diz está feito! E lá saiu porta fora cruzando-se na porta com Nelo Comuna que me pergunta!
- Quem era aquele!
- Era o Pavão, mas que já foi Cantinflas, e agora é novamente Pavão mas sem algumas penas!
- Realmente... já estás com os vapores... é final do dia… quantas vezes já foste ali ao lado ao Quebra Bilhas!
Não respondi limitando a sorrir e a olhar pelos vidros da porta a observar o Pavão sem bigode, e a reacção de espanto das pessoas que com ele se cruzavam!
Hoje e apesar deste meu contentamento da partida que fiz ao emproado, confesso que estou á espera da pancada! Será que me vai cá mandar a asai!