quarta-feira, 1 de outubro de 2008

MARRANOS ASSADOS.


Aqui atrasado arrecebi um convite!
Não, na era um convite de casamento.
Era nada mais nada menos que um convite de inauguração!
Sim, inauguração de um templo construído no século passado, no Monte do Corvacho!
Bem, na verdade na vinha endereçado á minha pessoa, visto que eu por acaso, mas só para o caso, até sou ateu, mas sim á minha senhora. Ela, sim que é devota e tem raizes neste monte.
E, como o Sr. Prior assim como Sr. Bispo, iam estar presentes, nem que chovesse picaretas, a minha senhora, jamais faltaria a este importante evento, onde tão ilustres figuras, assim como outro figurões, iriam desfilar.
Assim no fim de semana, lá tive que lhe fazer o frete e pegar no volante do meu Axiam 400, pois caso não lhe satisfizesse esse seu desejo punha-me de castigo e a sopas de cavalo cansado durante um mês!
Por acaso não chovia picaretas nem tão pouco umas pingas de água, aliás até estava um dia de sol radiante, tipo verão de S. Martinho, embora este fosse o dia do Gabriel, do Rafael e do Miguel!
Depois de duas horas menos três quartos de viagem, lá chegámos a horas, e a minha, lá foi para as cerimónias de inauguração antecedida da respectiva missa, eu fiquei-me por longe, não fosse cometer o pecado mortal de entrar na casa do Senhor, visto eu estar atolado dos mais vis pecados mortais (isto aos olhos de alguns)!
Pois, fiquei-me por outra capelinha…a da tia Quinhas, que já não via à alguns meses, talvez desde as festas anuais do ano anterior!
Tava feliz a taberneira! … feliz por nesse dia haver tanta gente importante lá no seu monte!
Desde, o bispo (que até nem é pessoa de sair do seu palácio por toma lá aquela palha) até aos políticos mais importantes da província e do Marmanjal e até arredores, os futuros e actuais e até os renegados locais, não faltando como não podia de ser os respectivos confrades das confrarias.

Lá fizeram as inaugurações que tinham a fazer com os respectivos discursos de ocasião, que eu não ouvi! Não ouvi, porque ainda continuava a rezar em amena confraternização com os meus amigos na capelinha da tia Quinhas, saboreando o sangue do Senhor que ela nos ia servindo em belos copos raiados de vidro da Marinha Grande, com a magnifica e rara capacidade de meio quartilho, num saudável despique “agora pagas tu a seguir pago eu”!

O tema das nossas rezas, eram e como não podia deixar de ser sobre o evento que se desenrolava a algumas dezenas de metros dali. Ás tantas alguém diz que o dinheiro que ali foi gasto ( mais de vinte mil contos de reis) foi dado pelo noviço Juan de La Cosa!
- Foi ele que os deu! ( disse eu incrédulo)
- Na, na foi ele... foi o Socras! (responde o Xico Cortiça)
- Quem!!!! O Socras o caraças... fomos nós todos! (disse eu indignado)
- Atão tamém te foram a pedir... e tu desti! (pergunta todo admirado o Manel Carriça)
- Achas... isto é dinheiro de nós todos, porque o dinheiro que eles deram era nosso, dos nossos impostos... eu pago impostos... eu e vocês somos o estado... o estado é o povo...e vivemos num país democrático e laico!.. e esse e outros já andam é a fazer politica com o nosso dinheiro... andam a tratar da vidinha deles, a ver se arranjam uns votitos dos parvos e ingénuos deste monte e dos outros por aí,... sim, para ver se ganham as próximas, que é para eles e os amigos se amanharem, bem amanhados... são todos iguais!... é tudo uma cambada... e vivem assim á conta de otários como vocês... e...eu!
De repente, ficaram todos com cara de aparvalhados... e calados com cara de quem comeu e não gostou, lá pensando para eles “lá vem este outra vez com aquelas ideias comunas e anarquista de que a terra é da quem a trabalha!...e coisa e tal..."
Arrependi-me de ter dito estas palavras, devia ter-me alembrado que pisava terrenos politicamente inimigos, e que não devia ter posto em causa a origem da massa, viesse ela de onde viesse!... mas o culpado era do liquido que já tinha no bandulho, e que fazia com que a a minha lingua se soltasse!
- Mas o sr. Presidente da junta e da cambra tamém deram!
- Toda a gente por aí deu…

Afirmaram o Xico Cortiça e o Manel Carriça!
Fiquei-me calado, pensando para os meus botões, será que a até as Testemunhas também deram… e a minha Maria também deu!?
Pois, eu pessoalmente... não dei, nem me pediram nada, mas... e ela, como para estas causas da fé está sempre pronta, acho que até faz tudo em dobro, inclusive as rezas, penso eu que o faz na minha vez pagando ela por mim, até mesmo penitencias, na expectativa de que os meus pecados sejam perdoados! Será que também me foi aos bolsos das calças enquanto eu dormia e deu em meu nome... e se calhar em dobro!

Estava eu com este pensamento na moleirinha, quando ouço um estridente...
- Oh Manel...
Era, ela á porta da tasca a chamar por mim.
- Já aí vou!
Já tinha passado para aí mais de duas horas e vinte minutos, desde que entrei na tasca, e não me tinha apercebido que o tempo voara.
Bebi o que restava no copo de golada…despedi-me dos meus companheiros de ocasião e saí, parei junto da minha Maria, ali, no meio do pequeno largo onde confluem três ruas… uma da direita outra da esquerda e outra do centro!
- Não tens vergonha, uma cerimónia tão linda e vieste-te meter na tasca!... a encharcares-te de vinhaça!
Não respondi.
- Olha o sr. Torroguito perguntou por ti!
- Hã... o quê!!!!
- Sim, disse que há uns marranos assados inteiros para comer… e convidou-me a mim e a ti!
- Não sabes que não posso comer carne, por causa do ácido úrico.... e logo de marrano!
- E o vinho não te faz mal, ao ácido!?

Entretanto olho sobre o meu ombro do lado direito e vejo num grupelho que vem na minha direcçaõ toda sorridente encabeçada pelo Torroguito e pelo confrade mor da Confraria das Merendas do Marmanjal (CMM) ladeados por outros confrades, desta e de outras confrarias...
- Eh pá tantos...
Diz o Manel com admiração que entretanto tinha saído da tasca e que já se encontrava atrás de mim.
Sim eram muitos, porque da rua da esquerda que também confluía ao largo onde eu me encontrava mesmo no centro, impávido e sereno, vinham outros tantos... ou mais!
Também este grupelho, vinha encabeçado pelo noviço Juan de La Cosa, ladeado pelo filho do Galochas, com cara de quem anda a fazer frete, assim como outras figuras de menor ou tanta importância, onde se incluíam alguns que têm a mania que andam com gente importante! O filho do Torroguito, vinha mais atrás com ar de comprometido ou e de quem não se quer comprometer, e que só está ali porque... nem ele sabe bem!
Bem devo dizer que me senti pequenino naquele pequeno largo como estivesse no centro de uma arena, e que em breve iria ser invadida por chocas, novilhos, novilheiros, touros e toureiros, e eu que nem bandarilheiro sou ou fui, aliás nem gosto de toradas, senti que se continuasse por ali iria ser cilindrado... só me ocorreu pegar no braço da minha, e puxá-la para dentro da tasca da tia Quinhas, e refugiar-me assim do epicentro de uma previsível garraiada!
Pelo menos aqui estava resguardado entre tábuas!
- Tia Quinhas deite aí mais meio quartilho… e tu Maria queres um pirolito!

- Não... na quero... quero é ir provar o marrano assado!

3 comentários:

Anônimo disse...

Caro Mirra:

"Ateu, graças a Deus", diz o meu caro amigo. Não há ateus. Os que eu conheci como tal, deixaram de o ser em determinada altura da vida. O meu amigo Mirra, não comungando da fé da "sua", não deixou de a acompanhar para não ter mais chatisses. Aí está uma boa forma de acreditar em alguém ou em alguma coisa: acreditou que, caso não fosse, haveria outro tipo de festa. Como vê, só não crê quem não quer!
Espero que não tenha deixado o marrano sem companhia. Pois olhe que com uma boa pinga da sua adega, até os ossos marchavam.
Abraço
Rufino

Mirra...Zé Mirra...Eu Mesmo! disse...

Amigo Rufino:

Marranos há por aí muitos! Mas os meus preferidos e que não dispenso são os da Bairrada, embora depois de os comer tenha que "enfiar" o comprimido para o ácido úrico!
Quanto à "minha", e embora eu seja ateu com a graça de Jeová, penso que por tudo o que eu lhe aturo, estou perdoado por mais 100 anos que viva!
Abraço
Mirra

Anônimo disse...

Olhe, compadre Zé:
Ê cá tenho andado arreliado com vossenecê, desde aquela vez que me tratou por senhor (logo, burro).
Mas como na sou home de guardar rancores, porque esta vida são dois dias (e a Festa do Avante são três!), arresolvi botar de novo faladura no sê blogue.
Gostei de saber novas sobre a candidatura do filho do Altino (acha que o rapaz se aguenta nas canetas, ou vai de encontro à paliçada?), assim como da inauguração das obras da igreja.
Sou ateu como o compadre, mas quando posso, nunca perco uma festa religiosa, porque são aquelas onde se cometem mais pecados ... Só que agora, tenho que acompanhar o Desportivo do Marmanjal que foi jogar a Zafra nesse dia.
Pronto, por hoje é tudo, compadre.
Um abraço e amigos como dantes.