quinta-feira, 31 de julho de 2008

A PROCISSÃO ( Parte I)


Eu, sonhei!

Que...

Era dia de festa no Marmanjal! Festa em louvor da Senhora do Monte da Mimosa!
Ou era uma encenação da via sacra!
Não sei bem!.. Mas acho que era a ultima! A encenação!
Sei que iam em procissão! Todos os confrades da zona Marmanja disseram presente, e lá iam eles vestidos a rigor com o respectivo traje. A confraria do Bródio, originária daqui do Pulo da Formiga, também... pois então! A Irmandade do Engonho, presente estava… com quase todos os seus elementos! Ninguém cantava, ninguém ria, ninguém assobiava, homem não tocava na mulher do lado e vice versa. Ninguém bebia, ninguém comia, ninguém bocejava, ninguém cobiçava. Tudo de cabeça baixa rezava... ou fazia de conta! Não havia banda, nem tão pouco fanfarra!
Ouvia-se um murmúrio ensurdecedor, das rezas em surdina!
Juan de La Cosa, o aspirante teimoso, foi o convidado para desempenhar o papel de J. Cristo. Aceitou, mas influenciado pelo seu conselheiro Zé do Junco!
A ideia de organizar esta íngreme subida em procissão ao Monte da Senhora da Mimosa foi da Confraria das Merendas do Marmanjal, (CMM) comandada pelo seu confrade Mor. Ia á frente ladeado pelos seus confrades, não iam trajados com a vestimenta da confraria, mas sim todos vestidos de soldados romanos. O grande papel do Confrade Mor era de General Romano (ou de Imperador!?), levando na mão direita um chicote. A lado dele iam mais militares, aspirantes a aspirantes, sargentos, majores e coronéis e até recrutas e alguns mancebos.
Também marcavam presença os soldados rasos arvorados e os básicos que eram bastantes, todos inchados e achado-se importantes! Talvez por fazerem parte da confraria!
Três da tarde, sol de rachar, e lá ia o povo Marmanjo, ladeira acima em procissão. Todo o mundo marmanjo lá ia. Até a Maria Ranholas que veio de longe com os filhos, sobrinhos e enteados. A Maria Bolacha e a sua cadela também. Esta ainda não percebi o porquê da sua participação! O Rufino, também claro, não levou o cachorro, mas levava um palhinhas do melhor néctar pela mão direita! Este veio enganado pela prima! A Carminda prima do Rufino, apesar de não viver nesta zona marmanja, ainda tem uma costela de cá, lá ia ela ao lado do Sr. Prior, a verdade é que não falta a uma procissãozinha á Senhora da Mimosa! O filho do Torroguito, com os olhos fundos de mal dormidos de recém-casado com a afilhada da minha vizinha, até interrompeu as núpcias para estar presente. As secretárias das confrarias seguravam na mão os mastros das respectivas bandeiras! O Carlinhos Bezerra, lá estava, mesmo com um galo na careca, prenda que alguém lhe deu por ser cusco e ter metido o bedelho onde não era chamado. O Labregas do sindicato ia cambaleando talvez provocado pelos gases etílicos que lhe saíam das ventas, mais parecendo uma barata tonta á cata do palhinhas do Rufino! O afilhado do Grão Mestre também lá ia com a farda de serviço, calções tipo banheiro listados de verde e amarelo. Camiseta alaranjada com a cor comida pelo sol e suspensórios laranja, novinhos. A Vanessa, filha do Toino Torcato com vestido de chita e as alpercatas rotas, ia agarrada á saia da mãe, limpando com as costas da mão o nariz, que teimava em pingar. O “cota” do casado de fresco, com a sua dama ao lado comandava a Confraria do Bródio, cá do Pulo! Marcava a cadência á frente desta, todos paramentados a rigor e bandeirinhas na mão da nação a abanar. O Quebra Bilhas dono da tasca Quebra Bilhas, fechou o estabelecimento para estar presente. Até a Tia Miquelina, essa mesmo…a da tasca, foi á procissão coisa nunca antes vista! O Nélito homónimo do noviço, que há quem diga é um comunista pálido, mas ateu, lá estava, trocando de vez em quando, umas palavras com o professor Zeca Coruja. A professora dona Rosinha Clarete, que por acaso ás vezes é presidenta da Santa Casa, ía com um bando de miúdos e miúdas uniformizados, todos do jardim de infância da dita Santa Casa. Coisa fina mesmo. O avós estava lá todinhos e nem um ficou no lar! Iam em sacrifício monte acima com um boné na moleirinha que o sr. presidente lhes ofereceu! O azeiteiro Zé Ilídio resolveu sair da fila da frente e cochichar ao ouvido do sr. inginheiro Hélio Pavão, que não ia vestido de soldado nem na primeira fila! A dona Betinha a minha vizinha desquitada e madrinha da esposada do Torroguito júnior, descutia em voz baixa com o ti Manel Carrapeta porque este, distraído, não reparou que ela tinha parado e bateu-lhe nas costas no momento em que a procissão fez uma pausa (eu acho que ti Manel se aproveitou para…) A estudante, futura médica, filha do inginheiro Pavão, ia toda de branco, olhando para o céu e sonhando com o hospital que um dia iria montar no Marmanjal. O repórter retratista Lambe-Botas, todo orgulhoso, não perdia um ângulo bom para, com a sua Pentax analógica, fazer a história da terra, e deste magnifico momento.


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8 comentários:

Anônimo disse...

Caro Mirra:

Razão tinha a minha prima Carminda: a procissão da Nossa Senhora do Monte da Mimosa é a mais bonita do Alentejo. E a mais quente, acrescento eu! Não fosse o palhinhas de branco fresquinho que levei, e tinha passdo um mau bocado. Muitos foram os olhares sobre o dito, mas resisti. Eu só fui acompanhar a Carminda, não fui fazer de santo. Lamentavelmente, não me pude aproximar de si. A sua posição privilegiada, como transportador do Santo Pálio, deu-me a conhecer a sua elevada posição no Marmanjal. Ainda bem que lhe reconhecem o valor.
Regressei, mas prometo voltar acompanhado de um tinto de estalo que vai acompanhar os fabulosos enchidos que a sua santa esposa, faz.
Até lá, um abraço do
Rufino.

PS. : Desconhecia que a Carminda ainda tinha parentes por aí. Logo vi. Aquela rapariga vem da melhor cepa.

Mirra...Zé Mirra...Eu Mesmo! disse...

Pois é meu caro Rufino eu sei que quis passar despercebido no meio da multidão. Mas eu vi-o, pois a minha posição permite-me um visão muito abragente sobre tudo o que se passa no Marmanjal. Sabe com a cofusão que veio a seguir nesta procissão perdi-lhe o rasto a si e principalmente ao palhinhas, que só agora sei era branco!
Fica para uma próxima! Mas eu pefiro o tinto.

Um abraço
Zé Mirra

Anônimo disse...

Ó comprade Zé Mirra

Ainda há há aí umas febras, um tinto e uma açordinha d´alho prá gente ir mandar abaixo?

Bom , foi brincadeira.
Vi o seu blogue pelo facto do snehor ir visitar o meu.
Quero agradecer-lhe e mandar-lhe um abraço, pois o seu blogue tem qualidade.
Gosto de ler o que o senhor escreve.

José Maria Martins

Anônimo disse...

Mas que sonho de arregalar o olho compadre Zé Mirra!
Estou mortinho por ver o que se passou a seguir ...

Anônimo disse...

Ó compadre Mirra:

Este calor dos diabos colou-me á pele uma gripe do caraças. Será que a filha do inginheiro Pavão me pode tratar da maleita? Sabe, é que, se calhar, ela até nem se importava de treinar e amim dava-me geito.
Abraço
Rufino

Mirra...Zé Mirra...Eu Mesmo! disse...

Companheiro Rufino!
A "receita" que lhe dou, não de médico mas de barbeiro é a seguinte:
abafa-se, abife-se e avinhe-se!

A filha do inginheiro essa coitada ainda não lhe pode valer porque ainda não é médica doutora, e mesmo que fosse acho não o queria ver nas mãos dela!Pois se herdar os dotes profissionais do progenitor, vamos ter ái uma boa sapateira!

Entretanto desejo-lhe as melhoras, e para a próxima não ande tanto ao relento!

Um abraço
Zé Mirra

Anônimo disse...

Essa de um ateu andar em procissões deu-me a volta à miolêra.
Esse gajo nã deve ser de confiança e deve querer estar de bem com Deus e o Diabo ó mêmo tempo ...

Mirra...Zé Mirra...Eu Mesmo! disse...

Pois é compadre Maneli, atão na é que alguns comunas por aqui estão a mudar de cor, como os comiliões, ou como se diz! São todos uns comiliões!

É assim compadre já não os há como antigamente!
Mudam-se os tempos, mudam-se as convições!